A Associação Brasileira de Etnomusicologia (ABET) e
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM)
Vimos a público manifestar nosso repúdio e nossa grande preocupação pela exoneração injustificada da museóloga Cláudia Márcia Ferreira (*) da direção do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, no dia 30 de setembro de 2021.
Diretora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) desde 1990, a servidora pública vinha realizando um trabalho consistente, sério e democrático no encaminhamento de projetos e programas de estudo, reconhecimento e valorização das culturas populares brasileiras em sua diversidade, ações nas quais muitos/as etnomusicólogos/as e musicólogas/os, entre pesquisadores/as de diferentes áreas do saber, colaboraram.
As conquistas desse profícuo trabalho que vem sendo desenvolvido pelo CNFCP, de salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, precisam ser protegidas e continuadas.
Endossamos a nota abaixo, elaborada pelo Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, em defesa do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e em repúdio à exoneração injustificada da diretora e museóloga Cláudia Márcia Ferreira. Sugerimos que a nota seja compartilhada amplamente. Clamamos também que a notícia se faça repercutir em escala nacional nas mídias de comunicação social.
(*) Cláudia Márcia Ferreira foi diretora do Museu de Folclore Edison Carneiro no período de 1982 a 1990. Assumiu, em 1990, a direção do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), que desde 2003 está vinculado ao Departamento de Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
À frente do CNFCP, Cláudia Márcia Ferreira desenvolveu projetos voltados à museologia e à arte popular e estabeleceu um sólido programa de pesquisa, documentação, manutenção de acervo e difusão cultural, como por exemplo a exposição permanente do Museu de Folclore Edison Carneiro, no Rio de Janeiro, sobre a diversidade cultural brasileira, com público anual estimado em 70 mil pessoas.
Integrou o Grupo de Trabalho que assessorou a Comissão na elaboração da proposta de criação do Registro e do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, instituídos pelo Decreto 3551, de agosto de 2000. Sob sua direção no CNFCP, muitas/os etnomusicólogas/os e musicólogas/os, entre pesquisadores/as de diferentes áreas do saber, desenvolveram projetos, estudos e publicações.
Documento do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro:
EM DEFESA DO CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE E CULTURA POPULAR
O processo de desmonte das instituições federais da área da cultura prossegue no governo Bolsonaro, desta vez atingindo o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), vinculado desde 2003 ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e sediado no Rio de Janeiro.
Criado há mais de 60 anos, em 1958, o CNFCP é a instituição pública federal de referência no que diz respeito à pesquisa, documentação, difusão e apoio às culturas populares, com atuação em todo o território nacional. Além de ter desempenhado um papel fundamental na construção e implementação da política de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial, o CNFCP detém um dos acervos mais ricos do Brasil em termos de obras de arte, objetos, documentos bibliográficos, textuais e audiovisuais, disponibilizados ao público para fruição e pesquisa por meio do Museu de Folclore Edison Carneiro, da Galeria Mestre Vitalino e da Biblioteca Amadeu Amaral.
O Centro é responsável, ainda, por programas de enorme importância no campo do apoio e fomento às culturas populares, como a Sala do Artista Popular, em funcionamento desde 1983, e o Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural – Promoart; por ações educativas e atividades de fomento à produção e à difusão de conhecimento, como o Curso Livre de Folclore e Cultura Popular e o Concurso Silvio Romero de Monografias, além de exposições permanentes e temporárias que levam ao grande público a diversidade, os diferentes matizes e aspectos das culturas populares no Brasil.
Desde a sua criação, a atuação do Centro foi marcada pela correção nos atos e procedimentos administrativos, pela excelência de projetos e programas, pela qualidade técnica e compromisso dos seus servidores, cuja conduta ética e moral, serve de inspiração a todos os servidores públicos da cultura, que, nos tempos atuais, vêm sendo tão aviltados no exercício de suas funções.
A despeito dessa trajetória significativa e impecável no desempenho de suas atribuições, o CNFCP vem sofrendo sistemática falta de apoio, por parte da atual gestão do IPHAN, o que veio se agravando nos últimos meses, com profundos cortes orçamentários e o “apagamento” de importantes atividades realizadas pelo Centro nas redes sociais dessa instituição. Esse processo de rebaixamento e descaso atinge agora o seu auge com a exoneração de Claudia Marcia Ferreira da direção do CNFCP. Museóloga e funcionária de carreira, sua gestão é inseparável do crescimento da relevância do centro e do seu posicionamento como entidade de referência no campo da pesquisa, do apoio e do fomento às culturas populares.
O Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, ao tempo em que alerta a sociedade para mais esta ameaça de desmonte institucional, manifesta o seu apoio e agradecimento ao trabalho dedicado e de excelência realizado, durante toda a sua trajetória, por Claudia Marcia Ferreira, bem como presta sua solidariedade aos servidores do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, que permanecem firmes e incansáveis na defesa das culturas populares, dos princípios de atuação dessa instituição, das suas atividades e programas, que já constituem um patrimônio da sociedade brasileira.
Brasil, 4 de outubro de 2021.
Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro
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