STs e GTs do XXXI Congresso da ANPPOM

(João Pessoa, 6 a 10 de dezembro de 2021)

Simpósios temáticos

Coordenação: Cibele Palopoli (Unisantos), Sheila Zagury (UFRJ) 

Ementa: Após a satisfatória primeira edição do Simpósio Temático “Choro no sentido lato”, ocorrida durante o XXX Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (2020) e que contou com a participação de sete autores, oito pareceristas e mais de 250 visualizações, temos a alegria de convidar pesquisadores interessados nas mais variadas vertentes ao redor do Choro a submeter trabalhos para esta segunda edição. Ary Vasconcelos em seu livro “Carinhoso etc.” (1984) propõe o termo Choro no seu “sentido lato”, referindo-se ao repertório dos chorões formado por diversos gêneros musicais: polcas, tangos brasileiros, valsas, mazurcas, maxixes, xotes e até sambas e marchas. Contrapondo ao sentido lato, o autor refere-se ao Choro no “sentido estrito”, vendo-o como gênero musical. Outros pesquisadores e músicos trazem mais acepções para a palavra “choro”, ampliando a discussão. Ela pode servir para designar um conjunto instrumental, um evento social, uma prática instrumental, sinônimo de músico e também de peça de repertório. Dentre pesquisadores brasileiros que vêm se dedicando a esse objeto de pesquisa, elencamos Almada (2006), Côrtes (2006), Clímaco (2008), Aragão (2011), Amaral Jr. (2013; 2017), Lima Rezende (2014), Valente (2014), Zagury (2014), Bertho (2015), Benon (2017), Lamas (2018), Palopoli (2018), Sève (2019), Cazes (2020), Modesto (2020), Rosa (2020), só para citar algumas das diversas referências que proliferaram consideravelmente, sobretudo a partir de 2010. Tal como a edição anterior, o Simpósio Temático “Choro no sentido lato” objetiva congregar trabalhos e investigações ao redor do Choro. O presente momento é de especial importância pelas mudanças de paradigmas e novas formas de pesquisa, comunicação e performances, instigadas pela pandemia do Covid-19. Tanto investigadores quanto músicos estão procurando se adaptar às condições de trabalho remoto e conseguindo muitos resultados, como a manutenção de festivais, concursos, ciclos de palestras e estudos e até rodas de Choro virtuais. Também salientamos o andamento do processo de registro do Choro enquanto Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em pesquisa e documentação conduzida pela Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec), selecionada pelo Iphan através do Edital de Chamamento Público n. 02/2019. As recentes exibições acerca do andamento desse registro incluem ciclos de seminários online, realizados desde novembro de 2020, abarcando temáticas como acervos, instituições de ensino, memórias e cenas do Choro em variadas partes do Brasil.

Coordenação: Luis Ricardo Silva Queiroz (UFPB), Fábio Henrique Gomes Ribeiro (UFPB) 

Ementa: Este simpósio tem como objetivo agregar trabalhos que abordem a formação musical como fenômeno da cultura, a partir de uma diversidade de perspectivas, contextos e expressões musicais do Brasil. O foco é abranger pesquisas sobre espaços, características, idiossincrasias, processos e situações de transmissão, ensino e aprendizagem em música, a partir do diálogo com temas e questões que permeiam a educação musical e a etnomusicologia, sem necessariamente se ater ou se limitar a abordagens disciplinares dos dois campos. Como tem sido apontado por diferentes pesquisa no contexto nacional (LUCAS, Glaura et al., 2016; QUEIROZ, 2017, 2010; QUEIROZ; MARINHO, 2017) e internacional (CAMPBELL; BANKS, 2018; MELLIZO, 2019; MOORE, 2017; NETTL, 2010), a diversidade que constitui as práxis musicais como fenômeno cultural, também está na base de uma infinidade de formas de transmitir, ensinar, vivenciar e aprender música. As estratégias e formas de formação musical são aspectos fundamentais e definidores da constituição, manutenção e ressignificação das culturas musicais, sendo a sua compreensão um elemento fundamental para o estudo e a interpretação de uma determinada cultura musical (BLACKING, 1974; CAMPBELL; BANKS, 2018; MERRIAM; MERRIAM, 1964; NETTL, 2005; QUEIROZ, 2015). Ao agregar trabalhas que lançam olhares plurais sobre a diversidade da formação em música em múltiplos contextos, o simpósio subsidiará aprofundamentos e reflexões sobre bases epistemológicas, metodologias de pesquisa, procedimentos analíticos, resultados, entre outros aspectos que podem fortalecer o conhecimento sobre o tema na área de música. Além dos avanços nas pesquisas e no conhecimento produzido, o simpósio também visa colocar em diálogos e interações pesquisadores que, sob lentes interpretativas distintas, têm estudado a formação musical como cultura no âmbito da diversidade das músicas do Brasil.

Referências

BLACKING, John. How Musical Is Man? Reprint edition. Seattle: University of Washington Press, 1974.

CAMPBELL, Patricia Shehan; BANKS, James A. Music, education, and diversity: bridging cultures and communities. New York, NY: Teachers College Press, 2018.

LUCAS, Glaura; QUEIROZ, Luis Ricardo S.; PRASS, Luciana; RIBEIRO, Fábio Henrique; AREDES, Rubens de O. Afro-Brazilian musical cultures: perspectives for educational conceptions and practices in music. The World of Music, New Series. vol. 5, no. 1, p. 135–158, 2016.

MELLIZO, Jennifer M. Music Education as Global Education: A Developmental Approach. TOPICS for Music Education Praxis, no. 1, p. 1–36, 2019. 

MERRIAM, Alan P.; MERRIAM, Valerie. The Anthropology of Music. 1 edition. Evanston: Northwestern University Press, 1964.

MOORE, Robin. College music curricula for a new century. New York: Oxford Scholarship Online, 2017.

NETTL, Bruno. Music Education and Ethnomusicology: A (usually) Harmonious Relationship. Min-Ad: Israel Studies in Musicology Online, v. 8, n. 1, p. 1–9, 2010. 

NETTL, Bruno. The Study of Ethnomusicology: Thirty-one Issues and Concepts. 2nd. Urbana: University of Illinois Press, 2005.

QUEIROZ, Luis Ricardo S. Educação musical é cultura: nuances para interpretar e (re)pensar a práxis educativo-musical no século XXI. DEBATES – Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Música, n. 18, p. 163-191, 2017.

QUEIROZ, Luis Ricardo S. Educação musical e etnomusicologia: caminhos, fronteiras e diálogos. Opus, v. 16, n. 2, p. 113–130, 2010. 

QUEIROZ, Luis Ricardo S. Há diversidade(s) em música: reflexões para uma educação musical intercultural. In: SILVA, Helena Lopes da; ZILLE, José Antônio Baêta (eds.). Música e educação. Série Diálogos com o Som. Barbacena: EdUEMG, 2015. p. 197–215. 

QUEIROZ, Luis Ricardo S.; MARINHO, Vanildo M. Educação musical e etnomusicologia: lentes interpretativas para a compreensão da formação musical na cultura popular. Opus, v. 23, n. 2, p. 62–88, 2017.

Coordenação: Climério de Oliveira Santos (UNIRIO), Carlos Sandroni (UFPE), Márcio Mattos (UFCA) 

Ementa: A música popular que atualmente chamamos de forró surgiu na década de 1940, quando Luiz Gonzaga e seu parceiro Humberto Teixeira começaram a utilizar o termo “baião” para designar a música-dança que buscavam tornar da moda. No Rio de Janeiro, e constituindo a sua carreira na cadeia da indústria da música, Luiz Gonzaga se consagrou como intérprete do Sertão, este sendo considerado um repositório cultural da região Nordeste e do Brasil. Em 1950, foi lançada a canção “Forró de Mané Vito”, parceria com Zé Dantas, através da qual o Rei do Baião narrou um baile popular, com dança de casais, animado por um grupo musical que assinala a presença do sanfoneiro, regado a bebida alcoólica, sedução, ciúmes e briga. Nos anos seguintes, essa narrativa vai se tornando mais e mais recorrente entre os intérpretes nordestinos, como Jackson do Pandeiro, Pedro Sertanejo, e muitos outros. Com a diversificação de temas, ritmos, intérpretes, narrativas e com uma convenção que se solidificava, o termo forró vai ganhando status de guarda-chuva, como um gênero que abriga os vários subgêneros: baião, xote, xaxado, etc. Nos anos 1980, a “música popular do Nordeste” define “forró” como o seu designativo. Luiz Gonzaga falece em 1989 e a década seguinte começa com o surgimento, no Estado do Ceará, das bandas-empresas. Estas não focalizam o Sertão como ambiente a ser narrado, mas, sim, a cidade, o contexto cosmopolita. Emanuel Gurgel, o empresário da banda-empresa primogênita, Mastruz com Leite, assim como os donos de bandas congêneres que foram surgindo, estava conectado com os grandiosos espetáculos da música pop transnacional. Através de uma ostensiva massificação, as bandas varreram o Nordeste e reverberaram em outras regiões brasileiras. Sua proliferação fez emergir diversas categorias classificatórias e provocou reações entre os agentes historicamente ligados aos forrós de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, as duas maiores referências da música popular representativa do Nordeste até então. De um lado, ganhou relevo a expressão “forró pé de serra” (ou “tradicional”), com a qual alguns agentes vinculados sobretudo a Luiz Gonzaga passaram a articular outros descontentes e a constituir um movimento contrário às bandas de forró. Como designativo das bandas do lado oposto, surge o termo “forró eletrônico” (ou “estilizado”). A despeito da polarização tradicional/estilizado, o forró continuou se diversificando até chegar aos nossos dias, em que sua vitalidade se expressa não só através de bandas-empresas e dos seguidores de Gonzaga e Jackson, considerados tradicionais, mas também entre tocadores de rabeca e de fole de oito-baixos, pifeiros, e até entre guitarristas e outros músicos de vertentes urbanas que se misturam aos forrozeiros. Vários rótulos surgiram nas últimas décadas, ora subvertendo padrões, ora os reiterando. Na década de 2010, um grupo de produtores(as), músicos e outras categorias começou a se articular no sentido de obter o registro do forró como patrimônio cultural imaterial do Brasil, junto ao Iphan. Essa articulação, iniciada na Paraíba, recebeu o nome de Fórum do Forró de Raiz, cresceu paulatinamente e já reúne representantes em 14 estados brasileiros. Como resultado dessa articulação e sob a supervisão do Iphan, foi iniciada uma pesquisa de instrução técnica para a patrimonialização do forró, o que tem captado o interesse de pesquisadores e de vários outros segmentos da sociedade brasileira. Além disso, vem ocorrendo um movimento diaspórico do forró pelo mundo globalizado, o que se evidencia na proliferação de músicos, academias de dança, casas noturnas e festivais de forró em muitos países, na Europa sobretudo. Em face do que expomos, propomos a realização de um Simpósio Temático que reúna, no próximo Congresso da ANPPOM, as mais diversas pesquisas em torno do forró. Isso possibilitará agregar pesquisadores de diversos PPGs em música, e assim fecundar a produção de conhecimentos nesse rico momento desta importante manifestação musical.

Coordenação: Clifford Hill Korman (UNIRIO), Fabiano Araújo Costa (UFES) 

Ementa: No XXIX Congresso da ANPPOM (2019) realizamos uma chamada de trabalhos para o Simpósio Temático “A improvisação musical em seus múltiplos aspectos” para considerar improvisação musical no olhar de vários prismas e disciplinas, entre elas: performance, composição, espontaneidade, cultura, individualidade, comunidade, comunicação, tradição, transgressão, linguagem e idioma, psicologia, redes de circulação e transmissão global de práticas e conceitos, liberdade, jogo, ética e filosofia. Um ano depois, como editores convidados, realizamos a chamada para o dossiê temático “Improvisação Musical” do periódico Música Popular em Revista (vol. 7, 2020 com um escopo igualmente amplo, buscando complementar o primeiro ciclo de 2019, para produzir um panorama das pesquisas acadêmicas sobre improvisação musical no Brasil. Em KORMAN & ARAÚJO COSTA (2019; 2020) apresentamos, além de uma bibliografia de referência sobre os estudos da improvisação, uma síntese do resultado das chamadas de 2019 e 2020 , que apontou para os seguintes eixos temáticos: (1) Aspectos estilísticos da improvisação na música popular; (2) Improvisação Livre; (3) A circulação global de práticas de improvisação musical; (4) Improvisação e audiotatilidade; (5) Ensino e aprendizagem da improvisação no jazz e na música popular; (6) Improvisação, comunidade e a sociedade; (7) Improvisação, ética, política e filosofia. Na ocasião deste XXXI Congresso da ANPPOM – 2021, propomos um Simpósio que se caracterize como uma continuidade deste movimento de reunião de estudiosos e interessados sobre a temática da improvisação musical, mas desta vez articulando o debate com as questões sobre a conceituação e práticas da improvisação nas culturas e as experiências, modalidades, possibilidades, e mesmo impedimentos de interação, considerando tal problemática entre musicistas (em tempo real mas também através de novas mídias), entre micro e macro-culturas em regiões urbanas, rurais, locais, regionais, internacionais e intercontinentais. Considerando igualmente o problema em relação a programas poéticos fechados e abertos (ex. improvisação idiomático, limitado pelo gênero, livre) manifestos, propostas pedagógicas, sistemas musicais, repertório, e outros contextos, como a prática vocal, instrumental, regência (ex. Conduction do Butch Morris e Soundpainting do Walter Thompson), corporal, a dança, e outras.

Encorajamos a submissão de trabalhos com abordagem descritiva, etnográfica, analítica, especulativa, empírica, comparativa diacrônica/sincrônica, e com embasamentos teóricos variados.

Referencias

Araújo Costa, Fabiano. Groove e escrita na Toccata em Ritmo de Samba nº. 2 de Radamés Gnattali, trad. de Patrícia de S. Araújo. RJMA–Revista de estudos do Jazz e das Músicas Audiotáteis, Caderno em Português, n. 1, Sorbonne Université, Abr. 2018b, p. 1-23.

___. “À l’écoute du ‘lieu interactionnel-formatif'”, In: Ramaut-Chevassus, B. & Fargeton, P., Écoute multiple, écoute des multiples, Paris, Éditions Hermman, coll. “Esthétique” (GREAM/CIEREC), 2019, p. 135-147.

Fischlin, Daniel and Ajay Heble, eds. The Other Side of Nowhere: Jazz, Improvisation and Communities in Dialogue. Middletown, CT: Wesleyan UP, 2004.

Korman, C. & Araújo Costa, F. (2020), “Contemplando a preparação para o imprevisível: notas sobre improvisação musical”, Música Popular em Revista, Campinas, SP, v. 7, n. 00, p. e020019, 2020. DOI: 10.20396/muspop.v7i00.14842. 

Korman, C. & Araújo Costa, F. (2019), “A improvisação musical em seus múltiplos aspectos”, Documento do Simpósio, Anais do XXIX Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música –Pelotas -2019.

Coordenação: Marcos dos Santos Santos (UERN), Luan Sodré de Souza (UEFS)

Ementa: Tendo sido inaugurado o debate transversal sobre música(s) e racismo(s) no âmbito do XXX Congresso da ANPOM, no ano de 2020, este simpósio pretende aprofundar as questões então levantadas, bem como alargar os horizontes de discussão, reflexão e construção de conhecimentos sobre perspectivas ligadas à compreensão da diáspora africana ao longo do Atlântico Negro e suas relações com as musicalidades/corporalidades experienciadas neste contexto. Processos de produção, transmissão e circulação dessas experiências sonoras, estéticas e poéticas, são aqui consideradas desde suas subjetividades e concretudes, abrindo-se a perspectivas que se debrucem sobre um passado histórico bem como sobre a contemporaneidade. A ideia de pensamento afrodiaspórico está conectada às existências humanas localizadas nas trajetórias da afro-diáspora, as quais são complexas, abrangentes e permeadas por marcadores sociais, culturais, territoriais, políticos, raciais, étnicos, econômicos. Tal complexidade, se reflete na diversidade de produções, na visão de mundo e no pensamento sobre musicalidades/corporalidades então agenciado por tais existências. Visando construir um espaço propositivo, este simpósio se abre às diversas subáreas da música em busca de alternativas e entendimentos possíveis cuja fundamentação considere as diversas existências que compõem a diáspora negra nas Américas e construa lugares epistemológicos adequados à estas existências no campo da música. Sendo assim, este simpósio aceitará trabalhos nas diversas subáreas da música: performance, composição, educação musical, etnomusicologia, musicologia, que contribuam para ampliar as discussões deste campo e, que ao mesmo tempo, possam colaborar com a construção de um arcabouço conceitual, discursivo e prático.

Coordenação: José Roberto Zan (UNICAMP), Walter Garcia da Silveira Júnior (USP), Gabriel Sampaio Souza Lima Rezende (UNILA)

Ementa: A música popular como fenômeno da modernidade, próprio ao desenvolvimento urbano-industrial e indissociável do capitalismo moderno, tem se consolidado como objeto de estudo acadêmico e, mais recentemente, estruturado um campo de estudos específico. Nas últimas décadas, trabalhos como o de Richard Middleton, Derek Scott e William Weber, delimitaram as especificidades desse fenômeno em sua natureza transnacional, e, para além da convencional perspectiva que vê a música popular como produto das tecnologias de gravação e transmissão sonoras próprias do século XX, explicitaram as inequívocas raízes nonocentistas desse fenômeno. Ao mesmo tempo, é notável o acúmulo do saber produzido sobre os mais diversos temas que se relacionam com esse fenômeno, desde suas vinculações mais amplas com aspectos relativos ao consumo e à formação de identidades, quanto em aspectos específicos da estruturação de sua linguagem interna. Assim, as exitantes terminologias (música ligeira, música popular comercial, música popular massiva etc.) vão dando espaço à consolidação do termo música popular. No Brasil, é visível o crescimento numérico e qualitativo dos estudos de música popular no âmbito acadêmico nas últimas décadas. Tal crescimento foi impulsionado principalmente pela expansão dos cursos de graduação e dos programas de pós-graduação em música voltados para a formação de pesquisadores. Entretanto, em que pese a qualidade e o rigor analítico de muitos trabalhos produzidos nos últimos anos, nos deparamos com algumas dificuldades decorrentes principalmente do caráter ainda incipiente da sistematização de experiências e conhecimentos que resultem na conformação de uma base teórica e metodológica sólida para a investigação desse objeto. Um objeto, como sabemos, de grande complexidade que se traduz tanto em dificuldades relativas à sua definição e delimitação, como ao seu caráter multifacetado e multidimensional. Tais características exigem uma abordagem interdisciplinar que envolva instrumentais analíticos de vários campos do conhecimento, especialmente das ciências humanas, dos estudos literários, da semiótica e das teorias da informação e da comunicação. Soma-se a isso a própria formação da música popular como campo de estudos e as relações de afinidade e tensão que ela estabelece com outras áreas do saber. Sua recente institucionalização no âmbito dos currículos universitários em música levou-a a refinar o tratamento analítico de seus objetos, afastando-a ligeiramente das áreas que contribuíram para a sua formação, como a história e os estudos literários e semióticos. Ao mesmo tempo, na medida em que se mantém interdisciplinar e abre mão de unificar teoria e método, ela reverbera o avanço da diversificação e especialização de outras áreas disciplinares da pesquisa em música, como a etnomusicologia e a própria musicologia, que também buscam tomar para si a música popular como objeto de pesquisa. Essa porosidade está calcada ainda na própria posição periférica de nosso campo de estudos diante da produção acadêmica internacional, sobretudo àquela de origem norte-americana e/ou europeia, que conta com instituições capazes de impulsionar pesquisas robustas e disseminar suas produções com a autoridade de novos referenciais teórico-metodológicos para o estudo da música popular. Finalmente, por se tratar de um objeto de natureza artística, a pesquisa não se limita apenas aos trabalhos centrados na explicação/compreensão do fenômeno musical, mas aos que se voltam a parâmetros teórico-práticos de processos criativos e interpretativos. Este simpósio temático almeja ser um espaço de discussão sobre o campo de estudos em música popular, acolhendo tanto trabalhos capazes de subsidiá-la a partir do tratamento de objetos específicos, quanto reflexões mais abrangentes sobre as possibilidades de articulação interdisciplinar e a canalização de práticas dispersas em esforços conjuntos para a sua consolidação.

Coordenação: Luciana Ferreira Moura Mendonça (UFPE), Ana Carolina Nunes do Couto (UFPE), Fernando Macedo Rodrigues (UEMG)

Ementa: A música popular vem passando por um crescente processo de institucionalização no Brasil, com a abertura de cursos de graduação e pós-graduação a ela dedicados (ou que lhe conferem grande espaço) e com o incremento quantitativo e qualitativo da pesquisa acadêmica nas últimas décadas. A crítica ao habitus conservatorial (Pereira, 2015) e as demandas por uma educação socialmente inclusiva e plural também têm levado à crescente inclusão de conteúdos populares na formação em música. Os estudos sobre música popular têm se caracterizado pela diversidade de abordagens teóricas e disciplinares ou transdisciplinares, recebendo aportes da antropologia, da educação musical, da estética, dos estudos culturais, da etnomusicologia, da história, da semiologia e da sociologia. Música popular passou a figurar como subárea temática específica nos encontros da ANPPOM a partir de 2009, refletindo o seu desenvolvimento como foco de pesquisa e ensino, como bem demonstra Tomás (2015). Ao mesmo tempo em que a transmissão formal de saberes e a pesquisa se expandem, as práticas e as noções de música popular – diversas do ponto de vista teórico, social e histórico, como discutem Napolitano e Wasserman, 2000; Sandroni, 2004; Wisnik, 1997; entre outros – vêm sendo impactadas pelas transformações culturais da alta modernidade. Particularmente no contexto brasileiro, e levando-se em conta a recente guinada conservadora e de ataque às políticas públicas de cultura, bem como os impactos das mudanças tecnológicas e do contexto pandêmico sobre toda a cadeia produtiva da música, observa-se um processo de reestruturação da formação e das práticas associadas à música popular. Considerando a complexidade e os possíveis entrecruzamentos das questões acima levantadas, o presente simpósio temático tem por objetivo debater e acolher trabalhos de pesquisa relacionados aos seguintes eixos de discussão: 

– Os desafios e impactos da formação universitária em música para a prática profissional e pesquisa no campo da música popular;

– A reestruturação criativa, simbólica e econômica na música popular brasileira contemporânea, incluindo as dimensões da produção, da performance e da fruição;

– Debates acerca das abordagens teórico-metodológicas da pesquisa sobre música popular e seu ensino;

– Impactos da pandemia da Covid-19 sobre a formação e práticas musicais;

– Inter-relação entre criação, fruição e o uso de tecnologias no contexto da pandemia;

– Usos e funções da música popular em diferentes contextos de ensino e aprendizagem de música.

Referências

NAPOLITANO, Marcos, & WASSERMAN, Maria Clara. Desde que o samba é samba: a questão das origens no debate historiográfico sobre a música popular brasileira. Revista Brasileira de História, 20 (39), 2000. p. 167-189. 

PEREIRA, Marcus Vinicius. O Currículo das Licenciaturas em Música: compreendendo o habitus conservatorial como ideologia incorporada. Arteriais – Revista do Programa de Pós-Gradução em Artes, [S.l.], p. 109-123, mar. 2015.

SANDRONI, Carlos. Adeus à MPB. In: Berenice Cavalcanti; Heloísa Starling; José Eisenberg. (org.). Decantando a República: inventário histórico e político da canção popular moderna brasileira. v. 1 Outras conversas sobre os jeitos da canção. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004, p. 23-35.

TOMÁS, Lia (org.). A pesquisa acadêmica na área de música: um estado da arte (1988-2013). Porto Alegre: ANPPOM, 2015. 

WISNIK, José Miguel. Música, problema intelectual e político. Entrevista a Ozeas Duarte e Paulo Baía. Teoria & Debate. São Paulo, n. 35, jul./ago./set., 1997.

Coordenação: Laila Rosa (UFBA), Harue Tanaka (UFBA), Eurides de Souza Santos (UFBA), Rafael da Silva Noleto (UFPel)

Ementa: Este simpósio pretende discutir os processos de atravessamento da interseccionalidade entre gênero, relações étnico-raciais, lugar, corpo e sexualidade na produção, prática e metodologias de criação e performance musical, congregando trabalhos que se ocupem da reflexão sobre mulheres e artistas LGBTTQI+ performers, produtoras, compositoras, improvisadoras, artistas sonoras, mestras da cultura popular e educadoras, observando as situações de deslocamentos e interseccionalidades e problematizando as categorias naturalizadas e hegemônicas. Este simpósio foi realizado por primeira vez no congresso da ANPPOM de 2018, na UFAM (Manaus), contando com um total de 17 trabalhos apresentados por pesquisadoras/es oriundas/os de diversas universidades brasileiras, demonstrando a relevância do tema e o desejo de interlocução de pesquisa em âmbito nacional, seguindo com 17 trabalhos apresentados em 2019 e 12 em 2020. Observamos que ainda hoje as mulheres em sua diversidade (cis e/ou trans) são minoria em diversos cursos de música no Brasil, que as obras de compositoras são menos interpretadas nos cursos de música, repertórios de orquestras e/ou de intérpretes, e que os cânones considerados válidos excluem esta produção enquanto adotam apenas a produção masculina, cisgênera e predominantemente branca, sendo também LGBTTQI+ fóbica. Desta forma, perpetuam-se critérios de exclusão, e se faz importante observar como estes mecanismos se articulam, além de, através da criação de relatos onde se incluem as práticas musicais de mulheres e pessoas LGBTTQI+, visibilizar modelos insurgentes na área. Ao mesmo tempo, as epistemologias feministas decoloniais e Queer/das sexualidades dissidentes propõem um outro olhar e novos métodos e documentos de pesquisa, mapeando iniciativas e militâncias que desejamos construir e estimular a partir da reflexão sobre os processos e práticas de mulheres e pessoas LGBTTQI+ que atuam na educação, seja ela situada no campo escolar e/ou da cultura popular, da criação e da interpretação musical como um todo. Buscamos ainda pensar sobre a violência de gênero nos meios musicais e seus embricamentos, observando as relações que existem entre gênero, raça/etnia, acessibilidade, geração, classe social, sexualidade, música e violência. O simpósio pretende acolher trabalhos sobre motivações, poéticas, interpretação e/ou análise de obras de mulheres e pessoas LGBTTQI+ ou práticas musicais desenvolvidas por estas. A partir de nossas vivências e das reflexões teóricas produzidas sobre gênero numa perspectiva interseccional, música, criação sonora, feminismos e critica feminista; observamos que os aportes produzidos por estas áreas contribuem para a compreensão dos nossos protagonismos e são essenciais para o desenvolvimento de ações e estratégias que possam enfrentar as matrizes de desigualdade neste campo, como discutidos por nós em artigo conjunto (ROSA e NOGUEIRA, 2015). Por fim, adotando uma perspectiva decolonial, antirracista, anticlassista, anti-lesbo-homo-transfóbica, entre outras matrizes de desigualdade, como destacam Luiza Bairros (1995), Ochy Curiel (2010), Berenice Bento (2006), Viviane Vergueiro (2016), Rita Laura Segato (2002), Lorena Cabnal (2010) e Suzanne Cusick (2000), dentre outras; o simpósio busca discutir a produção sonora e artístico-musical de e/ou sobre mulheres e pessoas LGBTTQI+ a partir do diálogo com os (trans)feminismos, os estudos de gênero, os estudos Queer, os cyberfeminismos e os artivismos. O simpósio poderá acolher trabalhos que reflitam sobre as temáticas de gênero, corpo e sexualidade a partir das abordagens da educação musical, (etno)musicologia(s), criação sonora, composição e performance, ao mesmo tempo em que serão bem-vindos trabalhos que atendam a formatos abertos e artivistas e que incorporem visões críticas e não-normativas em suas próprias constituições.

Coordenação: Regiana Blank Wille (UFPel), Tiago Madalozzo (UEPR), Vivian Dell’ Agnolo Barbosa Madalozzo (PUC/PR), Angelita Maria Vander Broock Schultz (UFMG)

Ementa: O Simpósio Temático Música, Infância(s) e Pesquisa propõe um fórum interdisciplinar de discussão, reflexão e construção de conhecimentos sobre perspectivas ligadas à música na infância. Parte de uma ampla definição de infância que permite a interlocução com diferentes áreas do conhecimento, tendo como tema convergente a música. Deste modo, entendendo a criança como ser biopsicossocial, aponta para a importância de se considerar a pesquisa em música no aprimoramento da produção de conteúdo sobre a infância enquanto categoria geracional, dos 0 aos 8 anos de idade, com foco no protagonismo infantil em relação ao seu entorno musical. Deste modo, o Simpósio pretende receber propostas de pesquisas não somente para crianças, mas também, investigações com crianças. O interesse em pesquisas com crianças tem crescido substancialmente nos últimos anos (FILHO e PRADO, 2011) ocupando lugar privilegiado nos estudos bem como suas “vozes” e até mesmo aquelas que ainda não falam, mas se revelam através de gestos, balbucios, olhares e movimentos. Estas pesquisas nos mostram a complexidade das infâncias e suas diferentes condições de existência. A partir do reconhecimento das singularidades dos modos de ser criança é preciso lançar um olhar específico para as culturas [musicais], que estas crianças estão produzindo, trazendo à tona o protagonismo delas. Partimos assim do conceito de infância apresentada por Sarmento (2004), enquanto um componente sociocultural complexo, pois de um lado se define pela alteridade com o mundo adulto, e paradoxalmente, por outro lado, pela reinterpretação e modificação entre pares a partir de elementos deste mesmo mundo adulto. É por esta reinterpretação que se pode falar em culturas da infância, que têm quatro eixos estruturadores: a interatividade, a ludicidade, a fantasia do real e a reiteração (SARMENTO, 2004). Destacamos, enquanto professores(as) e pesquisadores(as), a necessidade de refletirmos a partir de diferentes infâncias as questões para a prática de pesquisa sobre e com crianças na educação musical. Muitos problemas estão se agravando em nossa sociedade e têm se agravado em relação às crianças e nós como pesquisadores e educadores estamos sabendo “ouvir” essas vozes? Temos olhado as manifestações musicais infantis partindo de quais referenciais e representações? São dimensões da realidade social infantil a serem discutidas e problematizadas, levando em conta as diferentes infâncias e experiências musicais destas. São bem-vindas produções de áreas como a educação musical, a musicoterapia, a psicologia, a sociologia, a etnomusicologia, os estudos da criança e outras áreas correlatas, em pesquisas em andamento ou concluídas sobre articulações entre a música e as infâncias. Encoraja-se ainda a submissão de propostas sobre a música na infância no modo remoto, assim como na interação presencial.

Coordenação: Glauber Resende Domingues (UFRJ), Adriana Rodrigues Didier (UNIRIO)

Ementa: Conceituar música latino-americana não é tarefa fácil. Por mais que, em larga medida entendamos que, ao utilizarmos a expressão, estamos tratando de um conjunto de repertórios, práticas e fazeres musicais que integram os mais variados países da América Latina, em relação às suas origens e materialidades. Neste sentido, podemos dizer que ela pode ser um espaço onde conceitualmente a música brasileira também pode ser vinculada, já que esta também é latino-americana. Entretanto, mais adiante pretendemos trazer algumas características que podem trazer algumas pistas sobre como a música brasileira pode ser concebida no arcabouço aqui proposto. Desta forma, cabe ressaltar que estamos falando de um mapa sonoro-musical que se aproxima do ponto de vista do território, mas se diferencia por conta das mais variadas práticas e fazeres musicais, bem como das mais variadas formas de ensinar e aprender que tais práticas trazem em suas constituições. É imprescindível neste momento de diferentes lógicas de revisionismo histórico (e porque não dizer cultural) trazer à tona a responsabilidade que a pesquisa precisa ter tanto no âmbito da graduação como da pós-graduação de reforçar o caráter plural e democrático dos diferentes fazeres musicais. Tal preocupação se agiganta quando se trata de afirmar o papel das musicalidades que constituem este amplo mosaico que é o das culturas latino-americanas, que, no contexto atual, têm suas epistemologias e formas de transmissão colocadas em risco pelos diferentes movimentos ora de revisionismo histórico, ora de culto às epistemologias euro-estadunidense-centradas. Assim sendo, este simpósio pretende acolher trabalhos e pesquisas que versem sobre as musicalidades latino-americanas, tendo como recorte basicamente duas formas de entrada na temática. Por um lado, cabem aquelas investigações que tratam especificamente sobre as práticas, fazeres e gêneros musicais que integram os territórios dos países da América Latina, apresentando aspectos das sonoridades, dos instrumentos utilizados, das técnicas próprias e situadas em cada prática, assim como suas formas de transmissão, ou, dito de outra forma, suas pedagogias. De outro lado, de forma concatenada à dimensão anterior, será possível acolher trabalhos e pesquisas que calibrem seu olhar valendo-se de uma crítica às formas eurocêntricas de lidar com as práticas, fazeres e gêneros musicais latino-americanos. Neste sentido, cabem neste simpósio pesquisas que lidem com repertórios variados dos países da América Latina também desde uma perspectiva ‘sulizada’, ou seja, que tragam um olhar sobre tais práticas desde uma epistemologia latino-americana, lançando mão de referenciais teórico-metodológicos produzidos no bojo do pensamento científico latino-americano. Assim, cabe ressaltar que o simpósio pretende acolher trabalhos e investigações com diferentes matrizes teóricas que lidam com os fenômenos sonoro-musicais da América Latina. Dentre alguns deles citamos alguns: pesquisas que entendam os fazeres musicais latino-americanos desde um olhar trazido pelo multiculturalismo e/ou pela interculturalidade; investigações que debatam e tragam uma mirada sobre a colonialidade e suas facetas (decolonialidade, contracolonialidade) que ficaram impressas nas culturas musicais latino-americanas; trabalhos que enfoquem a centralidade dos debates interseccionais de raça, classe, gênero (dentre outros marcadores) como elemento central de compreensão dos fazeres musicais latino-americanos.

Grupos de Trabalho

Coordenação: Dulcimarta Lemos Lino (UFRGS), Sandra Cunha (UDESC), Carlos Kater (UFMG) 

Ementa: Este GT se propõe a compor “conversações” (CAGE, 2015, p.17) para sublinhar os processos de criação musical envolvidos no ensino de música na infância. Para Cage, o ato de conversar exige “estar com (con), virar-se (versar) para – ou seja para fora do eu apenas. O verso da poesia e o verso da conversação estão relacionados apenas dessa forma, como um literal virar-se – na melhor das hipóteses, inesperadamente, em direção aos nossos muitos passados, presente, futuros, isto é, em direção a possibilidades, contingências, reconhecimentos, ininteligibilidades (CAGE, 2015, p. 17). A música entendida como jogo entre som e ruído, como produção poética de ordenação de sentidos sonoros provocados pela ressonância, esse gesto processual de escuta, interpela o sentido de uma educação musical democrática na infância. Nossa intenção não é propor uma forma de ensinar música na infância, mas colocar em conversação o compositor e educador Carlos Kater e as educadoras Dulcimarta Lino e Sandra Cunha para expor suas investigações dentro da escola e da universidade pública brasileira, alicerçadas na potência da criação musical enquanto composição de uma educação e sociedade democrática e sustentável. Interlocução que ressoa as inquietações epistemológicas, éticas e políticas em torno da ampla tendência de desconsiderar na educação musical infantil o corpo sensível como fonte primeira de sentidos e significados que nos instalam no mundo. Os pesquisadores colocam na roda o laboratório de criação musical como tempo e espaço de convívio, participação, ludicidade, prazer e diálogo das poéticas que sustentam o protagonismo de crianças e adultos na escola, e a constituição de suas narrativas. Longe de práticas utilitárias capitalistas e disciplinares da música na educação, sublinha-se aqui a autoria da docência e da infância, compartilhadas no coletivo cotidiano da instituição educativa onde a criação musical é experiência imprescindível à inauguração de sentidos, porque abre tempos e espaços ao lúdico, ao sensível, ao singular, à produção e à intransponível dimensionalidade humana da música como partição e partilha. Ao tocar a música em estado de encontro, o GT “Criação Musical: educação e infância em conversação” sublinha reflexiva e metodologicamente a construção compartilhada de saberes e fazeres de adultos e crianças na superação de conceitos e propostas que ampliam e fortalecem a experiência poética, porque dão lugar a novos imaginários, novas negociações que exigem outros exercícios de investigação. Nesse contexto, viver os processos de escuta e criação musical improvisando, compondo, tocando e escutando música, sem fronteiras, amplia nossa capacidade de enfrentamento à percepção de si mesmo individualmente e como parte de um corpo maior da sociedade. Nessa compreensão, o ensino de música na infância ultrapassa a comunicação de significados pela intencionalidade pedagógica de estar em presença, como gesto produtor de sentidos sendo “uns-com-outros” (NANCY, 2007), numa temporalidade na qual a surpresa e o inesperado possam acontecer e tecer mundos. A presença sonora implica atenção ao outro, ao “ser todo ouvido”, à disponibilidade ao gesto de escuta de si e dos outros. Essa disposição estésica ao presente sonoro promove encontros que dilatam o tempo, exigem continuidade e, por ressoarem, se abrem e se ramificam em plurais reverberações, em diálogos que têm constituído contraponto aos epistemicídios musicais impostos pelas teorias psicológicas do desenvolvimento biológico e cognitivo e/ou pelo emprego de métodos prescritivos à educação musical na infância, tão disciplinadores do pensamento, quanto corretivos do movimento dos corpos. A imaginação criadora é gesto de resistência e liberdade urgente e necessário à educação musical da infância porque faz presença, produz conhecimento dialógico e acolhe a escuta daqueles que se entregam ao risco de ressoar sentidos na imprevisibilidade e indeterminação característicos do jogo, potência transbordante

Coordenação: Cassiano de Almeida Barros (UDESC), Mônica Isabel Lucas (USP), Luiz Henrique Fiaminghi (UDESC), Paulo Mugayar Kühl (UNICAMP) 

Ementa: Os estudos acadêmicos sobre as teorias, poéticas e práticas da Música Antiga se multiplicam em diversas instituições de pesquisa no país. Lidam com as produções, práticas e reflexões das músicas realizadas no contexto do Antigo Regime, ou seja, aquelas próprias das monarquias europeias dos séculos XVI, XVII e XVIII, tanto católicas quanto protestantes, presentes nas sedes dos poderes políticos e religiosos e nas suas diversas ramificações, incluindo estados e colônias mais ou menos periféricas. Dedicam-se à recuperação de referências, conceitos, ideias, processos, técnicas, artifícios e artefatos próprios de tempos, lugares e culturas pretéritos, que nos chegam em ruínas, na forma de partituras, manuais, tratados, instrumentos, cartas, pinturas e todo tipo de registro, documento e vestígio histórico. Considerados desde uma perspectiva hermenêutica, esses diversos materiais, em conexão, nos possibilitam vislumbrar esse passado e compreendê-lo em nosso tempo presente, a partir da fusão de seu próprio horizonte de sentido e o nosso, de leitor, hoje. Tendo em vista a limitação dos vestígios com os quais cada ação de pesquisa opera e a parcialidade e a contingência da compreensão que deles se constrói, assume-se, de partida, a necessidade de que essas pesquisas sejam realizadas em redes interinstitucionais e interdisciplinares, que contribuam para o aprimoramento dos processos, resultados e seus impactos e para o fomento de novas pesquisas, ações e produções. Nesse sentido, este GT se constitui com o objetivo geral de formar no Brasil um núcleo de trabalho e discussão, interinstitucional e interdisciplinar, que congregue grupos de pesquisa e pesquisadores dedicados ao estudo das teorias, poéticas e práticas da Música Antiga. Como objetivos específicos, propõe-se: mapear ações e produções acadêmicas e artísticas sobre a temática proposta e constituir uma rede de saberes e interlocutores; fomentar trabalhos de pesquisa em rede, ações e produções coletivas; ampliar o impacto das ações e produções acadêmicas e artísticas e a interlocução entre os diversos agentes e instituições participantes e outras afins.

Coordenação: Valeria Peres Asnis (UFU), Lisbeth Soares (FASC) 

Ementa: A formação inicial de professores de Música é tema recorrente em pesquisas,debates e em diversos eventos acadêmicos. A articulação entre este nível de formação e as questões relacionadas à inclusão educacional de pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e/ou com altas habilidades/superdotação (público da Educação Especial de acordo com a legislação brasileira em vigor) também vem sendo debatida, dada sua relevância na contemporaneidade. Compreendemos que isso ocorre, em parte, devido às políticas públicas que versam sobre a inclusão, sobre a inserção da Música nas escolas e a própria conscientização das pessoas, com ou sem deficiência, acerca dos direitos desta população específica, gerando pontos de interesse para as pesquisas. Neste sentido, damos destaque à Lei 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão), a qual reitera o direito à Educação para o público da Educação Especial, visando garantir o acesso a todos os níveis de ensino e o atendimento às necessidades específicas no tocante à acessibilidade, permanência, aprendizagem e qualidade, com práticas pedagógicas inclusivas. Esta lei também aponta o dever do poder público de garantir a eliminação de qualquer tipo de barreira, seja ela educacional, comunicacional, atitudinal, entre outras e na garantia dos direitos de acesso aos bens culturais e à participação do público da Educação Especial em diferentes atividades. No entanto, em um breve levantamento feito nos Anais dos Congressos anteriores realizados pela ANPPOM, particularmente no período de 2014 a 2020, identificamos poucos estudos que discutiram a formação inicial de professores e a Educação Musical voltada para o referido público, fato que nos chamou a atenção. Também observamos que houve uma diminuição do número de trabalhos relacionados a tais temáticas nos últimos 4 anos, nos fazendo refletir sobre o fato de que, talvez, estas não estejam sendo devidamente discutidas nos Programas de Pós-graduação em Música. Julgamos pertinente apontar que os estudos publicados nos Anais acima referenciados, apesar de colaborarem significativamente no tocante ao ensino, à revisão de literatura e à produção de material didático no âmbito da Educação Musical, pouco discutiram questões que envolvem a inclusão desta população propriamente dita, no processo de ensino e aprendizagem e sobre as quais consideramos indispensável discutir. Entendemos que, para além das adequações de materiais ou de procedimentos de ensino, a inclusão também pressupõe a reflexão e a discussão sobre vários aspectos inerentes aos processos formativos: relações sociais estabelecidas em sala de aula e no espaço escolar; interação dos profissionais da Educação Musical com as famílias, com profissionais da Saúde, etc. No tocante aos aspectos artísticos constatamos, também, que pouco foi apresentado sobre processos criativos com o público da Educação Especial ou sobre a própria produção artística destas pessoas, sendo este um outro viés de discussão. Assim, na intenção de promover discussões sobre a temática, apresentamos esta Proposta GT-de GT tendo as seguintes questões como pontos de partida: – A formação inicial de professores de Música oferece subsídios teóricos e práticos para a atuação com o público da Educação Especial? – As pesquisas, nos cursos de pós-graduação em Música, têm se voltado para esta temática? – As pesquisas podem contribuir para um novo olhar para estas pessoas, visando superar o capacitismo que aidna impera em diversos contextos? Esperamos, assim, abrir novas perspectivas para as pesquisas que venham a apresentar elementos sobre processos formativos, de ensino, sobre processos criativos e/ ou sobre performance artística do público da Educação Especial, sejam estes derivados de ações realizadas em escolas de Educação Básica, em escolas especializadas em Música ou em outros espaços.

Coordenação: Luis Ricardo Silva Queiroz (UFPB), Marcus Vinícius Medeiros Pereira (UFJF) 

Ementa: Este GT visa dar continuidade e aprofundar o trabalho realizado no XXX Congresso da ANPPOM, em 2020. O GT ao longo dos quatro dias de sua realização no evento do ano passado contou com cerca de 50 participantes, e os debates resultaram em análises consistentes e fundamentadas sobre novos caminhos para pensar os currículos da área de música a partir de perspectivas decoloniais. A expansão da educação superior e sua relevância para o desenvolvimento social têm sido foco de análises e definições políticas tanto no cenário nacional quanto no contexto internacional. Documentos publicados pela UNESCO (1998), a exemplo da “Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI: Visão e Ação”, apontam, desde o final do século XX, para duas dimensões fundamentais que têm marcado esse nível de ensino: 1) a demanda e a relevância sem precedentes que a educação superior alcançou mundialmente; 2) a necessidade de diversificação e adequação desse universo de formação à realidade e às demandas do mundo contemporâneo. No âmbito da música, estudos em diferentes contextos do Brasil (PEREIRA, 2014; QUEIROZ, 2017) e do mundo (BANSAL, 2011; CAMPBELL at al., 2016; JONES at al., 2019; MOORE, 2017) têm relevado que a área mantém nas definições dos seus cursos características similares às essas constatações gerais. Assim, se por um lado é notório o amplo crescimento dos cursos de graduação e pós-graduação na área, por outro é explicita a manutenção de modelos, conhecimentos e estratégias de ensino baseados em cânones que, historicamente consolidados, têm pouca relação com o cenário da música e da realidade cultural dos dias de hoje. Considerando essa conjuntura, este GT tem como objetivo analisar, discutir e compreender a trajetória que caracterizou a institucionalização do ensino de música no Brasil e seus impactos na definição de modelos canônicos de currículos para a educação superior no país, bem como analisar e propor perspectivas contemporâneas de reação às hegemonias que ainda dominam tal universo educacional. Assim, problematizando a manutenção dos cânones europeus consolidados principalmente ao longo dos últimos cinco séculos, o GT visa debater e propor diretrizes, bases epistemológicas e ações que contribuam para a redefinição dos currículos dos cursos de graduação em música na atualidade a partir de perspectivas e de opções decoloniais. Proposta geral
1º dia – Apresentação dos/das participantes e análise do relatório do ano anterior que retrata um panorama da educação superior no Brasil;

2º dia – Discussões acerca das bases epistemológicas e suas implicações para compreender a educação superior no Brasil, propondo ações contra hegemônicas

3º dia – Levantamento e análise de propostas e ações decoloniais já implementadas no Brasil;

4º dia – Conclusão

BANSAL, Vinod Kumar. Challenges in Higher Education in 21st Century. New Delhi: D.P.S. Publishing House, 2011.

CAMPBELL, Patricia Shehan; MYERS, David; SARATH, E. (Org.). Transforming music study from its foundations: a manifesto for progressive change in the undergraduate preparation of music majors (report of the task force on the undergraduate music major). Missoula: The College Music Society. 2016

JONES, Angela; OLDS, Anita; LISCIANDRO, Joanne G. (Org.). Transitioning Students in Higher Education: Philosophy, Pedagogy and Practice. Abingdon-on-Thames: Routledge, 2019.

MOORE, Robin. College music curricula for a new century. New York: Oxford Scholarship Online, 2017.

PEREIRA, Marcus Vinícius Medeiros. Licenciatura em música e habitus conservatorial: analisando o currículo. Revista da ABEM, v. 22, n. 32, p. 90- 103 |, 3 Jul 2014.

QUEIROZ, Luis Ricardo Silva. Traços de colonialidade na educação superior em música do Brasil: análises a partir de uma trajetória de epistemicídios musicais e exclusões. Revista da ABEM, v. 25, n. 39, p. 132–159, 2017.

UNESCO. World Declaration on Higher Education for the Twenty-First Century: Vision and Action. Paris: UNESCO, 1998.

Coordenação: Catarina Leite Domenici (UFRGS), Felipe Avellar de Aquino (UFPB) 

Ementa: Grupo de Trabalhos voltado para a discussão de perspectivas e desafios da pesquisa em Práticas Interpretativas e atuações artístico-pedagógicas na contemporaneidade. Partimos da visão de uma modelagem recíproca entre música e sociedade (De Nora, 2002) para pensar as Práticas Interpretativas no contexto de uma sociedade mais inclusiva e democrática pautados nos seguintes questionamentos:

  1. Considerando que o repertório canônico tal como o conhecemos e praticamos hoje foi criado no século XIX (Weber, 1999) e que este repertório consiste majoritariamente de obras compostas por compositores brancos de origem europeia, como podemos responder artística e pedagogicamente à demanda contemporânea por um repertório mais inclusivo que contemple categorias historicamente sub-representadas tais como compositoras e compositores de minorias étnicas e/ou oriundos de outros países, inclusive do nosso próprio país?
  2. Partindo da noção de música enquanto performance (Cook, 2015), como podemos conceber as relações que o intérprete engendra com o texto e o/a compositor(a), o público, e o contexto social no qual está inserido? 
  3. Quais desafios epistemológicos e metodológicos emergem da mudança paradigmática da performance como reprodução da obra musical para a performance como prática criativa? 
  4. Como podemos pensar a formação de intérpretes na atualidade?

Desde a criação do primeiro curso superior de música do Brasil, na UFRJ em 1931 (Ray, 2015), a área das Práticas Interpretativas vem contribuindo significativamente e de maneira continuada para a formação de profissionais, como também para a produção artística e de pesquisa nos cursos de Graduação e Pós-Graduação. Em 2013, a recém fundada Associação Brasileira de Performance Musical (ABRAPEM) organizou o seu primeiro congresso, promovendo o primeiro fórum de discussão em solo brasileiro sobre a Pesquisa Artística nas Práticas Interpretativas. Um dos objetivos deste GT é dar continuidade a essa discussão, posto que a prática musical em sua articulação com a sociedade contemporânea demanda uma postura reflexiva do artista-docente-pesquisador. Rever e repensar nossas práticas artísticas e pedagógicas de maneira que sejam congruentes com uma sociedade mais igualitária, justa, inclusiva e democrática. A proposta de G.T. prevê a participação de convidados nacionais (representantes da ABRAPEM e de Programas de Pós-Graduação em Música do país) e internacionais que contribuirão para a discussão dos questionamentos acima expostos. Dentre os convidados, a serem confirmados oportunamente, destacamos a presidente da American String Teacher Association (ASTA), Dra. Kristen Pellegrino, Dra. Natasha Farny, docente da State University of New York – SUNY-Fredonia cuja atuação como artista e pesquisadora enfoca a obra de compositoras, Dr. David Witten, docente da Montclair State University que se dedica à exploração e ampliação do repertório pianístico, Dr. Luca Chiantore (Musikeon/Universidade de Aveiro) e Dra. Mine Doğantan-Dack (University  of Cambridge), ambos reconhecidos artistas-pesquisadores. Este Grupo de Trabalhos visa também fomentar uma interlocução entre a área da Educação Musical e as Práticas Interpretativas através do debate sobre a atuação da ASTA, enfocando também as políticas de inclusão dessa Associação.