A Música em Referências Análise das
Citações da Revista OPUS
Vanildo Mousinho Marinho1
Introdução
A Ciência da informação, definida
como "o ramo de pesquisa que estuda as propriedades, o comportamento, os efeitos da
Informação, bem como os processos de transferência (...) [desta] Informação"
(Lima, 1984, p. 57), tem se preocupado em analisar, em diversos níveis, a produção
intelectual escrita disponível nas publicações. Muitos destes estudos, realizados em
várias áreas do conhecimento, visam, especificamente, entender as relações e
implicações da literatura especializada. Podem, desta forma, contribuir para que esta
literatura se desenvolva e se fortaleça a partir de uma postura crítica dos autores em
relação a seus próprios trabalhos.
Analisar alguns aspectos das
publicações escritas, a partir da análise estatística, tem sido tarefa da
Bibliometria, área da Ciência da Informação que se ocupa do "tratamento
quantitativo das propriedades e do comportamento da informação registrada"
(Pritchard2 apud Lima, 1984, p.
57).
A Bibliometria envolve várias leis e
preocupações que lhe possibilitam entender características próprias da produção
escrita (Urbizagástegui Alvarado, 1984, p. 91)3.
Para isto, se utiliza de técnicas específicas como a Análise de Citações, que estuda
o conjunto de referências bibliográficas, ou referências a outros tipos de documentos4, encontradas nas publicações, o
que permite conhecer algumas particularidades dos autores citantes, da publicação e da
área em que se está trabalhando os autores mais pesquisados, o tipo de
publicação de mais fácil acesso, o idioma que predomina nas publicações da área, a
idade dos documentos citados, por exemplo, são alguns dos possíveis pontos de enfoque
deste tipo de estudo. As referências evidenciam a relação entre o documento citante e o
documento citado, permitindo constatar elos de ligação entre áreas de pesquisa,
instituições e pesquisadores (Braga5
apud Lima, 1984, p. 57 e Rodrigues, 1982. p. 35). E ainda, encaminham "o leitor para
outras fontes de informações correlatas" (Lima, 1984, p. 57).
A Opus como Objeto de Estudo
Muitos periódicos têm sido,
freqüentemente, alvo de Análises de Citações. Procura-se, desta forma, conhecer
aquelas particularidades relativas ao conhecimento acumulado pelos autores dos artigos
publicados. Este conhecimento, evidenciado pelas referências a documentos, representa uma
importante fonte de informações para se entender o desenvolvimento das pesquisas na
área em estudo. É bem verdade que há limitações a serem enfrentadas: tirar
conclusões a respeito de aspectos qualitativos, a partir de análises quantitativas, pode
se tornar difícil. "O mais usado ou o mais citado não é necessariamente o melhor,
mas talvez o mais acessível" (Foresti, 1990, p. 54). No entanto, a análise
estatística dos dados extraídos das citações tem se mostrado bastante valiosa para as
pesquisas que se preocupam em estudar, de uma maneira mais abrangente, os periódicos
especializados.
A literatura periódica é, de certa
forma, representativa da comunidade que a produz, e funciona como fonte de pesquisa para
trabalhos posteriores (Ziman6 apud
Foresti, 1990, p. 53-54). Este tipo de publicação coloca-se, atualmente, numa posição
de grande importância no campo das pesquisas científicas. O avanço da ciência depende,
entre outras coisas, do tempo gasto entre a conclusão de uma pesquisa e sua divulgação
é muito mais rápido publicar em forma de artigo de periódico do que em forma de
livro, por exemplo.
Muitas áreas do conhecimento,
instituições, etc., possuem seus próprios periódicos. Neles, estudiosos e
pesquisadores encontram espaço para divulgar o andamento e os resultados de seus
trabalhos, de suas investigações. A Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação
em Música ANPPOM7,
procurando atender às necessidades de publicação da comunidade científica de sua
área, passou a contar, a partir de 1989, com o seu próprio periódico: a revista OPUS.
Criada com o objetivo de publicar os trabalhos apresentados nos "Encontros
Anuais" da associação, esta publicação possibilita um maior alcance na
divulgação do que ficaria restrito as platéias das conferências e comunicações.
Segundo Ilza Nogueira, em texto de apresentação do primeiro número da OPUS, a
comunicação oral das pesquisas realizadas é considerada de "(...) importância
essencial para a consolidação da área", mas a comunicação escrita é tida como
"(...) a que concede aos pesquisadores a propriedade de seus trabalhos e o seu
reconhecimento, de uma forma mais ampla" (1990, p. 5).
A publicação de artigos promove este
reconhecimento, e as referências a documentos que os artigos trazem representam o
reconhecimento que os autores os citantes dedicam aos trabalhos de outros
os citados. Entretanto, essa relação citante/citado não é fácil de se definir.
Os motivos que levam um autor a fazer citações são os mais variados: desde proporcionar
leituras básicas (cf. Garfield8
apud Smith, 1981, p. 1), até dividir responsabilidades sobre determinadas afirmações,
ou citar autores de renome para valorizar o próprio trabalho (cf. Weinstock9 apud Foresti, 1990, p. 54).
A Análise de Citações, enquanto
estudo especializado, portanto, pode trazer conclusões importantes e fornecer
indicações quanto ao encaminhamento de políticas de aquisição bibliográfica10, políticas editoriais de
um modo geral como a necessidade de publicações, traduções, etc. , e
também quanto ao encaminhamento da política editorial do próprio periódico estudado
como por exemplo, a redefinição de objetivos, no que diz respeito a seleção dos
artigos para publicação.
No caso específico deste trabalho,
realizou-se a análise das citações da revista OPUS, buscando conhecer as
características específicas desta publicação, enquanto periódico especializado da
área de música, e, ainda, identificando como os autores dos artigos se relacionam com o
conhecimento acumulado em seu campo de atuação
Tratamento dos Dados
Os dados para esta Análise de
Citações foram obtidos nos três números da revista OPUS, publicados até a data da
realização deste estudo, em abril de 1994. Especificamente: OPUS nº 1, de dezembro de
1989; OPUS nº 2, de junho de 1990; e OPUS nº 3, de setembro de 1991.
O estudo compreendeu três momentos:
coleta, processamento e análise dos dados, e foi desenvolvido a partir da análise das
seguintes variáveis: tipo de documento, idioma do documento, idade do documento, tipo de
autoria e autor citado.
Na coleta verificou-se o número de
artigos publicados nas revistas, a autoria destes artigos e se eles traziam, ou não,
citações. Quando o artigo analisado apresentava mais de uma referência a uma mesma
fonte, foi considerada apenas uma citação desta fonte. Após o fichamento das
citações, foi realizado o levantamento do número total de documentos e também
por tipo do idioma em que foi publicado, das datas de publicação, do tipo de
autoria e dos autores citados. Houve casos em que algumas citações foram utilizadas para
a análise de determinadas variáveis e desconsideradas para outras, ou por
apresentarem-se incompletas, ou pela própria característica do documento a que se
referem.
No processamento foram
trabalhadas as informações obtidas nas citações, visando uma melhor organização dos
dados. Para tanto definiu-se critérios de classificação, distribuição e análise
destes dados em relação às variáveis. Foram construídas tabelas e gráficos, que
permitiram uma melhor visualização e leitura dos dados já organizados.
Na análise buscou-se explorar,
ao máximo, as possibilidades de leitura dos dados disponíveis, partindo de uma abordagem
quantitativa. Procurou-se estabelecer relações entre estes dados, buscando conhecer de
maneira mais aprofundada a produção em estudo e a comunidade científica nela envolvida.
Neste sentido, lançar mão, também, de uma abordagem qualitativa, para melhor entender o
que os dados numéricos apresentam, tornou-se imprescindível.
Resultado das Análises
A revista OPUS, nos seus três números
analisados, traz um total de 28 artigos, todos de autoria única (autoria individual), dos
quais 24, equivalentes a 85,71%, apresentam citações. Os 4 artigos sem citações
representam 14,29% do total (Tabela 1); índice considerado bastante satisfatório, se
comparado com os 26,36% encontrados por Pittella (1991, p. 195), quando analisou
periódicos brasileiros de biblioteconomia. Os 24 artigos trazem um total de 218
citações, o que dá uma média de 9,08 citações por artigo; incluindo-se os 4 artigos
sem citações, esta média cai para 7,79. Este resultado, de uma forma ou de outra, está
abaixo dos encontrados em estudos realizados na literatura de outras áreas do
conhecimento.11
As citações são apresentadas de
maneira diversificada: umas em notas de rodapé, outras no final do texto, ou ainda
divididas entre o rodapé e o próprio texto. Há algumas citações incompletas, o que
causou dificuldades para se definir seus elementos e impediu a sua utilização em todas
as análises. Verifica-se, também, algumas ausências de referências, mesmo quando no
texto a discussão gira em torno de um autor, de um documento, de uma partitura, etc. Em
relação às partituras, isto fica bastante evidente em alguns casos, são
mencionadas obras musicais e compositores, e não são indicadas as referências da fonte
consultada.
Tipo de documento
Para o tipo de documento, as
citações foram classificadas, quanto a forma, como: artigos de periódicos,
comunicações, dicionários, dissertações, livros ou partituras. Das 217 citações
analisadas para este item12,
75,58% fazem referência a livros, revelando a preferência da maioria dos autores que
publicam na OPUS por este tipo de documento, como fonte de informações para suas
pesquisas. Juntando-se a estes os artigos de periódicos (14,75%), o somatório representa
90,33% dos documentos citados. Os 9,67% restantes aparecem divididos entre os outros 4
tipos de documentos: comunicações, dicionários, dissertações e partituras. Fica
evidente o contraste existente entre o número de livros e os outros tipos de documentos
citados.13 (Tabela 2 e Gráfico
1)
Os periódicos citados
Os 32 artigos de periódicos citados
fazem referência a 24 títulos de periódicos (Tabela 3). Destes, os 6 mais citados
receberam de 2 a 4 citações. Este grupo, equivalente a 25% do total de títulos, recebeu
ao todo 14 citações, que representam 43,75% (quase metade) das citações a artigos de
periódicos. Dos 24 periódicos citados apenas 4 são editados em português. Todos
incluídos no grupo que recebeu apenas 1 citação cada.
A auto-citação do periódico
A revista OPUS não é citada em nenhum
de seus artigos. Não ocorre, portanto, a auto-citação do periódico. Isto, talvez, por
ser uma revista com pouco tempo de existência até a publicação do seu último número.
Segundo Price14 (apud Foresti,
p. 55), os documentos com menos de dois anos têm menos chances de serem citados, precisam
de mais tempo para serem disseminados e gerar discussões. A auto-citação de um
periódico dá-se através dos autores que nele publicam, e pode representar algo como uma
intencional promoção deste periódico. Mas, por outro lado, pode significar que ele (o
periódico) se vê envolvido e fomenta determinadas linhas de pesquisa, e que os artigos
publicados geram interesse e estimulam o aprofundamento das discussões, tão necessário
para o desenvolvimento das pesquisas científicas.
Idioma do documento
Para o idioma do documento,
verificou-se em qual língua está escrito o título do documento: alemão, espanhol,
francês, inglês ou português. As partituras, num total de 13, escritas para piano,
não foram consideradas para a análise deste item. Em 58,83% das 204 citações
analisadas, há referência a documentos no idioma inglês15.
O português vem em segundo lugar, com 21,57%. Os restantes 20,10% referem-se às outras
três línguas citadas: francês, alemão e espanhol. (Tabela 4)
Idade do documento
Para determinar a idade do documento,
em anos, foi considerado o tempo decorrido entre o ano de publicação deste documento e o
ano de publicação da revista em que está citado. A idade mediana dos documentos citados
foi determinada a partir do somatório do número de citações, distribuídos em ordem
crescente de antigüidade, até o ponto onde se alcança 50% delas. A idade média (ou
média de idade) foi determinada a partir do cálculo da média aritmética. Para a
análise deste item foram excluídas três citações, que não apresentam data.
Foram analisadas 214 citações cujas
idades variam de 0 a 176 anos, em relação ao ano de publicação da revista. A maior
extensão de idade, está na revista nº 2: 0 a 176 anos; a que tem menor extensão é a
nº 3, com documentos citados que variam de 1 a 47 anos. Pode-se observar que as maiores
concentrações de citações estão nas faixas de 3, 5 e 17 anos de idade, com 11
citações cada. Há apenas um caso de citação a documentos publicados no mesmo ano de
publicação da revista. (Tabela 5)
Calculando a idade mediana, verificou-se
que 52,35% dos documentos citados estão na faixa dos 14 anos de idade. Índice que se
mostra bastante elevado, em comparação com valores como 5 e 6 anos encontrados na
literatura de Biblioteconomia e Ciência da Informação (Rodrigues, 1982, p. e Foresti,
1990, p. 63), áreas que vêm passando por transformações bastante acentuadas nos
últimos anos. Há, entretanto, casos como o da Zoologia, em que a literatura produzida
traz citações com uma idade mediana de 40 anos, considerada extremamente elevada
(Carvalho, 1976, p. 29). Calculando-se pela média, os 217 documentos citados apresentam
um índice que se aproxima dos 17 anos de idade.
De uma forma ou de outra, os resultados
encontrados revelam uma grande utilização de documentos menos recentes pelos
pesquisadores que publicam na OPUS 47,65% das citações têm mais de 14 anos de
idade. Mas, ao mesmo tempo, verifica-se que praticamente um quarto dos documentos citados
(24,32%) têm de 0 a 7 anos de idade. Isto mostra terem sido utilizados, também,
documentos bastante recentes inclusive na faixa de até dois anos, de mais difícil
ocorrência, observa-se 7,95% deles.
Tipo de autoria
Para o tipo de autoria,
considerou-se de autoria única (autoria individual) os documentos que apresentam apenas
um autor, e de autoria múltipla os documentos que apresentam mais de um autor
tanto naqueles casos em que todos estão citados, quanto nos casos em que são
representados pela expressão "et al". Três citações não foram consideradas
para este item, por não apresentarem a autoria do documento.
Observa-se que 89,72%, das 214
citações analisadas, são documentos com autoria única. Este tipo de autoria está
presente em todos os tipos de documentos citados. A autoria múltipla, por sua vez,
representa apenas 10,28% do total, encontradas em livros e artigos de periódicos. Os
outros tipos de documentos não apresentam autoria múltipla. Este baixo índice se
contrapõe às previsões de que os documentos de autoria única tenderiam a desaparecer,
dando lugar aos trabalhos realizados em parceria (Carvalho, 1975, p. 123). (Tabela 6)
Autor citado
Para definir o autor citado,
observou-se nas citações os tipos de autoria. Nos casos de autoria múltipla,
considerou-se cada autor individualmente. Três citações não especificam o autor,
portanto não foram consideradas para este item.
Nas 214 citações analisadas
verificou-se que os documentos foram produzidos por 181 autores. Observa-se que a maioria
destes autores, 85,64%, recebeu apenas uma citação cada. Os mais citados, com 2 a 13
citações, representam apenas 14,36% do total. (Tabela 7)
Os 181 autores citados receberam, no
total, 234 citações. Esta diferença entre o número de citações analisadas (214) e o
número de citações/referência a autores (234), deve-se à ocorrência de autoria
múltipla. Muitos dos autores estão citados tanto em trabalhos individuais quanto em
trabalhos com parceria. (Quadro 1)
Foi organizada uma listagem dos autores
em ordem decrescente de citações, possibilitando conhecer a Frente de Pesquisa e o Grupo
de Elite dos autores citados16.
A Frente de Pesquisa é representada pelos 26 autores com 2 ou mais citações. Neste
grupo verificamos a presença de apenas 4 brasileiros (Tabela 8). A partir do Princípio
do Elitismo, determinou-se, por aproximação, que o Grupo de Elite dos autores da revista
OPUS está formado pelos 9 autores mais citados, que receberam mais de 3 citações
incluídos, entre eles, dois brasileiros. Este grupo representando 4,96% do total de
autores citados, recebeu 45 citações, equivalentes a 19,23% das citações a autores
(Tabela 8). Este índice fica muito abaixo dos 50% determinados por Price, quando afirma
que "a raiz quadrada do conjunto produtor [o Grupo de Elite] corresponde à metade do
conjunto produzido" (Price17
apud Rodrigues, 1982, p. 41). No entanto, essa possível baixa produção do Grupo de
Elite fica condicionada pela grande maioria de autores com apenas uma citação. O autor
mais citado é o compositor Bruno Kiefer, com 13 partituras para piano. Suas obras são as
únicas citações deste tipo, em todo o grupo estudado.
Auto-citação
A auto-citação ocorre em 4 autores
citantes; dois deles com 3 auto-citações e dois com 1 auto-citação (Tabela 9). Estas
auto-citações referem-se a 2,21% dos autores citados. A citação de trabalhos
anteriores do próprio autor do artigo pode ser tomada como uma possível auto-promoção,
mas a auto-citação, de uma forma geral, significa que os autores estão investindo em
trabalhos que dão continuidade as suas pesquisas.
Interpretação dos Dados e Conclusões
A Análise de Citações, como técnica
bibliométrica específica, proporcionou, neste estudo, o encontro de interesses mútuos
entre sua área e a música. A Biblioteconomia e a Ciência da Informação têm
procurado, nos últimos tempos, conhecer e participar de questões ligadas à
organização bibliográfica na área de música; e a música, ao mesmo tempo, vem
buscando nessas áreas conhecimentos específicos que podem contribuir para um melhor
desempenho na sistematização do conhecimento musical.18
Analisar as citações da revista OPUS
permitiu conhecer algumas importantes características, tanto do corpo de autores dos
artigos, quanto do próprio periódico:
- Não tem sido dada a devida atenção
às citações musicais. Em se tratando de um periódico da área de música, poderia ser
uma prática sistemática a apresentação de referências completas sobre as obras
mencionadas, qualquer que seja a fonte consultada (partitura, gravação, etc.);
- A falta de um padrão, na
apresentação das referências na revista OPUS, dificulta a busca bibliográfica, ou de
outras fontes documentais, pelos pesquisadores;
- O alto índice de artigos citantes
demostra a preocupação dos pesquisadores em discutir e aprofundar os conhecimentos
acumulados em seu campo de atuação;
- A média de citações, por artigo,
pode ser considerada baixa em relação a outras áreas, mas demonstra o empenho dos
autores, na busca de leituras e informações para a fundamentação e elaboração de
seus trabalhos;
- A "preferência" pelos
livros pode ser resultante da dificuldade de acesso a outros tipos de documentos, como os
periódicos especializados na área de música, por exemplo. Isto pode significar,
também, que os pesquisadores ainda não reconhece os periódicos como uma importante
fonte de informação e atualização. A dificuldade de acesso aos periódicos
estrangeiros e a irregularidade dos periódicos brasileiros contribuem, provavelmente,
para que isto venha ocorrendo. Esperava-se, ainda, que um número maior de partituras
fossem citadas, tendo em vista que se trata de um periódico da área de música, onde
muitos dos artigos analisam ou referem-se a obras musicais;
- A preferência pelo idioma inglês
está relacionada, provavelmente, à falta de uma bibliografia satisfatória em língua
portuguesa ou, ainda, ao fato de que grande parte dos pós-graduados brasileiros, da área
de música, têm realizado seus cursos em países de língua inglesa: Estados Unidos,
principalmente. Assim, conseguem reunir uma bibliografia, nesta língua, que satisfaz seus
interesses e necessidades. Esta carência de bibliografia em língua portuguesa evidencia
a necessidade de traduções para o idioma nacional, mais acessível para a maioria dos
brasileiros;
- Embora tenham sido utilizados
documentos bastante recentes, a idade mediana alta significa que os documentos mais
antigos continuam sendo procurados e constituem fontes de informações ainda não
superadas. Pode significar, também, que as publicações mais recentes não têm merecido
uma atenção significativa por parte dos estudiosos, possivelmente por não trazerem
discussões relevantes e de interesse ou por não conseguirem ir além do que já foi
dito, ou ainda por não gozarem de reconhecimento dentro da área em que estão inseridos;
- Apesar de ser incentivada, em várias
áreas do conhecimento, a realização de trabalhos e pesquisas em grupo, tanto trabalhos
envolvendo apenas uma especialidade quanto trabalhos interdisciplinares, a área de
música parece manter uma certa resistência em adotar esta prática. Os seus
pesquisadores preferem, na grande maioria das vezes, trabalhar isoladamente. Pode-se
observar que os próprios artigos da revista OPUS são todos de autoria individual;
- O baixo número de auto-citações
revela a pouca utilização de estudos anteriores do próprio autor para a fundamentação
dos trabalhos apresentados. Revela ainda, que a maioria dos trabalhos não se configuram
como pesquisas que dão continuidade a outras já realizadas por esses autores.
Mais do que uma análise estatística,
desenvolvida através dos dados numéricos, busca-se, na Análise de Citações, a
análise crítica, de caráter qualitativo, que é possível extrair destes dados,
objetivando o crescimento da área estudada a partir do conhecimento de sua própria
produção.
A citação configura-se como uma
importante fonte para se identificar aquelas obras, e os autores, que estão sendo
analisados e discutidos por um grupo de pesquisadores, por uma área do conhecimento, etc.
Desta forma, a citação pode indicar as obras e os autores que estão tendo
reconhecimento e sendo consagrados, funcionando como um meio de divulgação da produção
científica e de seus autores. Deve-se observar, no entanto, que as citações podem ser
utilizadas, também, para apresentar pontos de vista discordantes das obras citadas.
Há que se considerar que a Análise de
citações, como técnica bibliométrica, não dá conta, por si só, de todas as
implicações da relação citante/citado. Outras análises, como por exemplo a do
conteúdo do texto citante em relação ao contexto em que a citação está inserida,
podem proporcionar reflexões que complementam e aprofundam este tipo de estudo.
É importante considerar um trabalho de
análise desta natureza também em outros periódicos brasileiros da área, como a ART, da
Escola de Música da UFBA, a série Fundamentos, da ABEM, os Cadernos de Estudo, da Escola
de Música da UFMG, e outros. Este tipo de trabalho possibilitaria conhecer
características particulares de cada um destes periódicos e dos autores que neles
publicam, o que poderia gerar análises comparativas entre eles, ou ainda, numa investida
maior, uma análise envolvendo todos eles.
Convém ressaltar a importância dos
periódicos para a circulação das informações de uma maneira mais ágil, pois, como
foi mencionado anteriormente, é muito mais rápido publicar em forma de artigo de
periódico do que em foma de livro. Neste sentido, se faz urgente a retomada das
publicações periódicas que encontram-se paralisadas, como a OPUS por exemplo, e o
incentivo para que novos títulos venham tomar seu lugar na área musical.
Espera-se que as reflexões aqui
apresentadas possam contribuir para o desenvolvimento da literatura especializada na área
de música. Reflexões estas que são o resultado da aplicação de técnicas e métodos
próprios das áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação, através da
bibliometria, em uma área que tem sido pouco explorada por estudos desta natureza.
Referências Bibliográficas
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de. Estudo de citações da literatura produzida pelos professores do ICB/UFMG.
Ciência da Informação, Rio de Janeiro, 5(1/2):27-42, 1976.
CARVALHO, Maria Martha de. Análises
Bibliométricas da Literatura de Química no Brasil. Ciência da Informação, Rio de
Janeiro, 4(2):119-141, 1975.
FORESTI, Nóris Almeida Bethonico. Contribuições
das revistas brasileiras de Biblioteconomia e Ciência da Informação enquanto fonte de
referência para a pesquisa. Ciência da Informação, Brasília, 19(1):53-71, 1990.
LIMA, Regina Célia Montenegro de. Estudo
Bibliométrico: análise de citações no Periódico "Scientometrics".
Ciência da Informação, Brasília, 13(1):57-66, 1984.
NOGUEIRA, Ilza. Apresentação.
Opus, Porto Alegre, n. 1, p. 5. 1990.
PITTELLA, Mônica Cardoso. Análise
de citação dos periódicos brasileiros de biblioteconomia 1972 - 1982. Revista da
Escola de Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, 20(2):176-190, 1991.
RODRIGUES, Maria da Paz Lins.
Citações nas Dissertações de Mestrado em Ciência da Informação. Ciência da
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SMITH, L. C. Análise de Citação
[Citation analysis]. Library Trends, v. 3, n. 1, p. 83-106, summer 1981. Tradução de
Maria de Lourdes de Arruda Melo.
URBIZAGÁSTEGUI ALVARADO, Rubén. A
Bibliometria no Brasil. Ciência da Informação, 13(2):91-105, 1984.
Nota
1 -Professor da área de música do
Departamento de Artes da UFPB, aluno do Mestrado em Biblioteconomia da UFPB.volta
2 - PRITCHARD, Alan. Statistical
bibliography or bibliometrics? Journal of documentation, 25:348-9, 1969,
apud Lima, 1984, p. 57.volta
3 - Segundo Urbizagástegui Alvarado,
os estudos da Bibliometria compreendem as Leis de: Bradford, Lotka, Zipf, Goffmam; Frente
de Pesquisa ou Elitismo e Obsolescência da Literatura.volta
4 - Entendendo documento, neste
contexto, como qualquer tipo de fonte de informação em qualquer suporte.volta
5 - BRAGA, G. M. Bibliometria,
apontamentos de aula do Mestrado em Ciência da Informação IBICT/UFRJ. Rio de Janeiro,
IBICT/DEP, 1983, apud Lima, 1984, p. 57.volta
6 - ZIMAN, J. M. Information,
Communication, knowledge. Nature, 224:318-24, 1969. apud Foresti, 1990,
p. 53-54.volta
7 -A ANPPOM, segundo Ilza Nogueira,
presidente desta associação no período 1988/1989, tem se preocupado em estimular e
divulgar a produção artística e científica musical no Brasil, no sentido de levá-la a
"acompanhar e refletir o desenvolvimento científico e tecnológico
contemporâneo" (1990, p. 5).volta
8 - GARFIELD, Eugene (s. d.) apud
Smith, 1981, p. 1.volta
9 - WEINSTOCK, M. Citation indexes.
Encyclopaedia of Library and Information Science. New York, Dekker, 1971. v. 5, p.
16-40, apud Foresti, 1990, p. 54.volta
10 - Considerando também, além dos
documentos escritos, outros tipos de documentos e de suportes.volta
11 - Carvalho (1975, p. 123),
analisando a literatura de química, observou 17 citações por artigo; Pittella (1991, p.
195), identificou 10,10 citações por artigo, na literatura de biblioteconomia.volta
12 - Das 218 citações verificadas na
revista, 1 não apresenta dados suficientes para análise deste item, por isso deixou de
ser considerada.volta
13 - Estes resultados são bastante
diferentes dos encontrados em outras Análises de Citações. Foresti (1990. p. 57-58),
analisando as revistas brasileiras de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
constatou, em seus estudos, que os livros/folhetos/monografias representam 32% dos
documentos citados, enquanto os artigos de periódicos representam 41,94%. Carvalho (1975,
p. 122), analisando a literatura de química no Brasil, verificou que os artigos de
periódicos estão presentes em 78% das citações.volta
14 - PRICE, D. de S. Networks of
scientific papers; the pattern of bibliographic references indicates the nature of the
scientific research front. Science, 149(3683):510-15, july, 1965. apud Foresti, p.
55.volta
15 - Este alto índice de citações
em língua inglesa tem sido encontrado, também, por outros pesquisadores. Pittella (1991,
p. 203), refere-se a 67,3% de citações em inglês, e Foresti (1990, p. 59), refere-se a
52,67%, em estudos na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
respectivamente.volta
16 - O princípio do Elitismo, de
Price, estabelece: "qualquer população de tamanho N contém uma elite de tamanho
[raiz quadrada de N]" (PRICE, D.
de S. Network of scientific papers. Science, 149(3683):510-15, jul.
1965, apud Rodrigues, 1982, p. 41.), onde N é o total de autores citados.volta
17 - PRICE, D. de S. Network of
scientific papers. Science, 149(3683):510-15, jul. 1965, apud Rodrigues,
1982, p. 41.volta
18 - Com este propósito, foi
realizado em Salvador, no período de 19 a 24/ 09/ 93, o II Simpósio Brasileiro de
Música, cuja temática foi a Sistematização do Conhecimento Musical.volta

ANEXO