RELATÓRIO DO ENCONTRO
(Considerações e Recomendações)
Ilza Nogueira
1: Do público em geral:
Considerando-se que o Encontro foi realizado numa
cidade em que não há curso de pósgraduação em música, distante há aproximadamente
890 km do centro mais próximo de pósgraduação na área (Salvador), o número de
inscritos (96) foi relativamente alto, tendo superado as expectativas. Também pode-se
considerar alto o percentual de público ativo (participantes das programações
científica e artística), apresentando-se superior à metade do número de
inscrições:56 (58.33%).
2: Da representatividade regional no público:
52.08% do público do Encontro originou-se da
região geográfica que sediou o evento (Nordeste), sendo que 35.41% é proveniente do
estado da Paraíba, sede do evento. Deixando fora a representatividade internacional
(4.16%), observa-se que 43.76% do público dividem-se, desequilibradamente, com as outras
regiões do país, tendo na região Sudeste a segunda maior representatividade: 30.20%.
Mais da metade deste percentual é proveniente do estado de São Paulo (l 6.66%). Em
terceiro lugar está representada a região Sul (7.29%), principalmente pelo estado do Rio
Grande do Sul (6.25%). Em quarto lugar vem a região Norte, com 4.16% de
representatividade. E em último lugar, a região Centro-Oeste, com apenas 2.08%.
Considerando-se que existe um curso de pós-graduação em música recentemente implantado
na UFGO, que um dos membros do Conselho Diretor da ANPPOM na época do evento é da
Região Centro-Oeste, e que, por outro lado, a região Norte é carente até de
graduações em música, estranha-se, no mínimo, a inversão de posições entre as
regiões Norte e Centro-Oeste na escala da representatividade regional no evento. Os dois
representantes da região CentroOeste não representavam o curso de pós-graduação em
música da UFGO.
3: Da representatividade regiorial/estadual na
programação do evento:
Com relação ao público ativo do encontro (56), a
maior representatividade foi a da região Sudeste:26 (46.43%), e nesta representação o
estado de São Paulo destacou-se com o número de13 participantes ativos (23.21%). Em
segundo lugar vem a região Nordeste , com o número de 19 participantes ativos (33.93%),
l O dos quais (l 7.85%) são do estado da Paraíba.
Os estados da Bahia e do Rio de Janeiro empatam em
terceiro lugar na representatividade do público ativo, com 8 participantes (l4.28%). Os
estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul ocupam o quarto lugar com 5 representantes
(8.92%), e finalmente o Distrito Federal apresentase com dois participantes ativos
(3.57%). Não houve representação da região Norte dentre os participantes da
programação do encontro.
Considerando-se que o público ativo do evento é,
potencialmente, gerado pelos cursos de pósgraduação strícto sensu que atendem a
área, e que estes cursos não se encontram distribuídos de forma homogênea no país - 6
na região Sudeste (3 no Rio de Janeiro e 3 em São Paulo), l na região Sul (Rio Grande
do Sul), um na região Nordeste (Bahia), l na região Centro-oeste (Goiás) e nenhum na
região Norte, compreende-se como natural as representatividades regional e estadual
ocorridas
4: Da representatividade institucional do país no
programa do evento (considerada apenas a produção científica e/ou artística):
UFPB: 3 trabalhos científicos; l relato de
pesquisa; l relato artístico; 5 comunicações artísticas;
UFBA: 2 trabalhos científicos; 5 relatos de pesquisa.
UFRGS: 4 trabalhos científicos; 2 relatos de pesquisa.
UFRJ: 2 trabalhos científicos; 3relatos de pesquisa
UNICAMP: l trabalho científico, 3 relatos de pesquisa; l relato artístico.
UNESP: 3 trabalhos científicos.
UNI-RIO: 2 trabalhos científicos; l relato de pesquisa.
USP: 2 trabalhos científicos; l relato de pesquisa.
UFMG: 2 relatos de pesquisa.
UnB: l trabalho científico; l relato artístico.
UFRN: l trabalho científico.
UFU: l relato de pesquisa.
12 Instituições de Ensino Superior do país
realizaram a programação do evento. Destas, a UFRGS ocupou o 1º lugar na
produção de trabalhos científicos de médio porte (4 exposições em mesas-redondas),
vindo imediatamente seguida pela UFPB e UNESP (3 trabalhos de pequeno porte). Em
produção de pesquisa, a UFBA ocupou o 1º lugar (5 relatos), vindo imediatamente
seguida pela UFRJ e UNICAMP (3 relatos). Quanto à produção artística, o destaque da
UFPB deve-se à política adotada pela coordenação do evento, de limitar a exibição de
produtos artísticos à representação internacional e à representação do Estado da
Paraíba.
Considerando-se, por um lado, que o público ativo
do evento é, potencialmente, gerado pelos cursos de pós-graduação stricto sensu da
área de música; e, por outro lado, considerando-se que, dos 7 cursos de pós-graduação
stricto sensu da área no país (UFBA, UFRGS, UFRJ, CBM, UNI-RIO, USP, UFGO), dois
já são consolidados e estão avaliados com conceitos A e B (UFRGS, UFBA e UFRJ),
espera-se que estes cursos gerem maior número de participantes ativos, e que os cursos
que estejam em fase de consolidação e/ou necessitando de melhorar sua avaliação se
esforcem por gerar participantes ativos. Neste sentido, estranha-se que alguns dos cursos
de pós-graduação em música não se tenham feito representar no programa científico do
evento (UFGO, CBM), e outros só tenham-se representado com participantes convidados
(USP). Se distribuíssemos o público ativo do Encontro com os cursos da área e com
aqueles da área de artes que têm concentração em música (UNESP e UNICAMP), teríamos
uma média de 6.2 participantes por curso. Em torno da média, estariam os cursos da da
UFBA (7) e da UFRGS (6), e um pouco abaixo, o da UFRJ (5). Bastante abaixo da média
estariam os cursos da UNESP (3), UNI-RIO (3) e USP (2). Neste nível, também
contribuíram instituições não mantenedoras de pós-graduação em música ou artes mas
que, em sua participação, revelaram potencial e tendência para gerarem tais cursos em
futuro próximo: UFPB e UFMG.
5: Do investimento institucional:
Os dados apresentados no item intitulado "Do
investimento institucional no público" revelam uma razão inversa entre o
investimento das regiões em público para o evento e o investimento do evento na
representação regional. A região que menos gerou público para o evento foi
integralmente patrocinada pelo mesmo, enquanto a região mais representada foi aquela que
o Encontro menos patrocionou. As considerações seguintes justificam esta incoerência
aparente:
a)a região Centro-oeste foi a que menos contribuiu
e mais recebeu, proporcionalmente, do evento. Os dados revelam a necessidade de uma maior
mobilização da ANPPOM na região, que sedia um curso de pós-graduação em música
recente (l994), e só conta com 4 associados da ANPPOM, 3 dos quais são sócios
fundadores (l988).
b)a região Norte, a penúltima em público, foi a
única a não obter patrocínio do evento, em função de suas características
institucionais: não abriga cursos de pós-graduação na área nem pesquisas cadastradas
nos órgãos de fomento. Não se pode desprezar o interesse demonstrado pela região no
Encontro, considerando-se que, ela nem mesmo foi contemplada com a divulgação (pelo fato
de não ter cursos de pós-graduação nem pesquisadores cadastrados, com apenas dois
sócios da ANPPOM, um dos quais sem endereço atualizado na associação). É evidente a
necessidade de investimento na formação de recursos humanos na região Norte.
c)a região Sul ocupou o 3º lugar na contribuição
com o público no evento. Considerando-se que esta região foi a que mais gerou trabalhos
científicos de médio porte para o evento (4 exposições em mesas-redondas), por um
lado, e sua grande distância da sede do Encontro, por outro lado, compreende-se o alto
investimento do evento na região (patrocínio de 71.42% de seus representantes), de
encontro ao pequeno investimento da região no encontro (gerou apenas 7.29% do público do
evento).
d) a região Sudeste, a 2ª em geração de público
para o Encontro, foi a que recebeu maior divulgação do evento, pelo fato de ter um
número expressivo de associados à ANPPOM (31, ou seja, 50% do número de associados na
época do congresso), de sediar 6 cursos de pós-graduação, e de possuir um número
expressivo de pesquisadores no sistema SIGEF/CNPq na época da divulgação do evento (l5
dentre 27). Quatro dos cursos de pós-graduação da região (UNICAMP, USP, UNI-RIO e
UFRJ) estiveram representados nas mesas-redondas do evento, tendo a região gerado cinco
trabalhos científicos, coordenado três mesas-redondas e sido representada na comissão
científica do Encontro. Pode-se considerar, portanto, que a região investiu no evento,
tendo gerado um público significativo (30.20% das inscriçoes), tendo participado
efetivamente da programação (a maior representatividade regional de público ativo:
46.43%), e patrocinado significativamente seus representantes (58.62%).
e) a região Nordeste, naturalmente, foi a 1ª em
geração de público para o evento (52.08% das inscrições). Deste público, 35.41% não
necessitou de patrocínio, pois era originário do Estado da Paraíba, sede do evento. O
investimento da região concentrou-se em dois estados: Bahia, com 10 participantes ativos
nas programações científica e administrativa; e Paraíba, com 10 participantes ativos
nas programações científica, artística e administrativa. Considerando que apenas 14%
do público desta região necessitou do patrocínio do evento, torna-se evidente que a
região sede do evento investiu significativamente no mesmo. Deve-se ressaltar o fato de
que, dos 34 participantes inscritos do estado da Paraíba, 20 são estudantes da
graduação em música da UFPB e 11 são professores da instituição (9 do Departamento
de Música, 2 do Departamento de Artes), dos quais apenas 4 são pós-graduados na área.
Estas cifras revelam uma valorização do encontro pela comunidade local, considerando-se
a inexistência de cursos de pós-graduação em música no Estado - os legítimos
formadores de público para eventos deste tipo. O fato indica que esta comunidade, cujas
atividades acadêmicas são essencialmente direcionadas para uma prática instrumental
desvinculada da reflexão, tem interesse pelo discurso sobre música.
4: Da representatividade das subáreas de música na
programação do evento (excluindo conferências e mesas-redondas):
composição:2 trabalhos
científicos, 4 relatos de pesquisa, 6 trabalhos artísticos (vídeo, disco,
apresentação de obras)
educação musical: 2 trabalhos científicos, 4 relatos de pesquisa
musicologia: 8 trabalhos científicos, 8 relatos de pesquisa
práticas interpretativas: 2 trabalhos científicos, 3 relatos de
pesquisa, e 7 trabalhos artísticos (recital ou meio recital)
O quadro acima apresenta l3 trabalhos artísticos ao
lado de 33 trabalhos científicos, ou seja, 28.26% de trabalhos artísticos ao lado de
71.74% de trabalhos científicos, o que significa uma proporção desejável e
correspondente ao caráter da ANPPOM, seus objetivos e metas.
Observa-se que:
a)a área de musicologia apresenta uma produção
significativa e equilibrada entre trabalhos em andamento e produtos acabados,
representando 48.48% da produção científica inscrita do evento. A área abrigou
uma diversidade de escopos trabalhos: (teórico-analíticos, históricos, semiológicos,
etnomusicoiógicos). Não houve número suficiente de trabalhos em cada uma destas
categorias, para que se pudesse organizar seções específicas. A produção da área já
exige um encontro anual específico.
b)a área de Educação Musical apresenta maior
volume de trabalhos em andamento, o que revela uma produção nova. Avaliando esta
produção, deve-se levar em conta o fato de que a ABEM é o veículo legítimo de
escoamento da produção da área, e que o seu Encontro Anual, ocorrido poucos meses antes
do Encontro da ANPPOM, certamente esvaziou-o dos trabalhos em Educação Musical.
c)a área de Composição apresenta um quadro que
pode ser interpretado como normal ao objetivo da área, com um nlvelamento entre
apresentações de caráter artístico (6) e científico (6). Entretanto, considerando-se
que esta área ainda não tem outro forum de comunicações científicas enquanto encontra
muitos outros para apresentações artísticas, que existem dois cursos de mestrado em
composição no país (UFBA e UFRJ), e que apenas dois dos trabalhos apresentados derivam
destes cursos, pode-se considerar que o número de comunicações científicas em
composição foi baixo neste evento, devendo ser estimulado.
d)Quanto à área de Práticas lnterpretativas, o
quadro apresentado também pode ser interpretado como normal ao objetivo da área, com uma
incidência pouco maior trabalhos artísticos (7) que científicos (5). No entanto,
considerando-se que a área também ainda não tem seu próprio forum de comunicações
científicas e encontram inúmeras oportunidades para apresentações artísticas, e que a
maioria dos mestrados em música/artes do país oferece a habilitação em práticas
interpretativas (UFRGS, UFBA, UFRJ, UNI-RIO, UFGO, UNICAMP, UNESP), pode-se considerar que
o número de comunicações científicas em práticas interpretativas neste evento
representa uma situação crítica da área que deve ser corrigida.
5:Das atividades administrativas:
a) reunião de coordenadores de cursos:
Os Encontros da ANPPOM representam a oportunidade
das coordenações de cursos discutirem, anualmente, problemas pertinentes à
pós-graduaç o em música no país. É, portanto, desejável que as instituições e os
cursos a elas vinculados valorizem esta oportunidade. Neste encontro, fizeram-se
representar oficialmente os seguintes cursos: UFBA, UNI-RIO, CBM, UFRJ, UNICAMP, UFRGS.
b) reuniões do Conselhos da ANPPOM:
Os Conselhos Diretor e Editorial da ANPPOM devem-se
reunir anualmente, para realizarem as tarefas a eles pertinentes, assim como discutirem
problemas e políticas de sua atividade. Uma vez que a ANPPOM patrocina, integralmente, a
vinda de seus representantes eleitos ao Encontro Anual, não se coi-npreende a ausência
injustificada de membros dos conselhos. Estiveram presentes às reuniões: todo o Conselho
Editorial da ANPPOM; dois membros do Conselho Diretor: Erick Vascoriceios, Representante
das Regiões Norte-Nordeste; e Cristina Gerling, representante da Região Sul. Faltaram,
sem apresentar justificativa à Coordenação do Encontro ou a seus pares, os
representante da região Centro-Oeste e da região Sudeste.
6: Das atividades informativas:
Na exposição de produtos científicos do evento,
observou-se a falta de representatividade dos periódicos gerados pelos cursos de
pós-graduação da área (expiicada pela inexistência números mais recentes que os
expostos no Vil Encontro), a falta de livros e partituras recentes produzidos no país.
Estas ausências evidenciam uma falha generalizada no sistema de apoio institucional a
estas publicações, e apontam para a necessidade de uma ação da ANPPOM em prol do
estabelecimento de políticas e estratégias eficazes de apoio às publicações da área
por parte dos órgõs de fomento à pesquisa.
